Justiça

Em Justiça, a artista personifica a figura icônica da Lady Justice—vendada, ereta e segurando as balanças simbólicas. Mas, em vez de um equilíbrio sereno, a performance se desenrola em disruptura e colapso. Atrás da performer, um vídeo é exibido, com um discurso de Michel Temer, o ex-presidente brasileiro que participou do impeachment de Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil. Suas palavras—ecoando misoginia, traição política e retórica autoritária—preenchem o espaço.

À medida que o discurso avança, o corpo de “Justiça” começa a vacilar. Ela treme, tropeça, cai, repetidamente, encenando a destruição física de um sistema que deveria representar a justiça e a integridade. A performance se transforma em um protesto visceral, expondo a fragilidade e a performatividade da justiça em uma democracia corrompida.

Mas o colapso não é o fim. Erguendo-se do chão, a performer rompe o silêncio com uma declaração ousada e firme: “Eu quero uma sapatão para presidenta.” Reclamando voz, presença e poder, a performance reinventa a justiça—não como uma neutralidade cega, mas como uma resistência corpórea, queer e feroz. Ela desafia o público a repensar quem está realmente apto a liderar e como seria uma verdadeira justiça quando não está mais a serviço do poder patriarcal.

Apresentado como parte de “What’s Going On, Brazil?” na Sari-Sari – Berlim, Alemanha, em 1º de novembro de 2017.

Imagens: © Fridel Teicke & Fernanda Peruzzo