Eu Sou Ofélia é uma performance que funde histórias pessoais e políticas, combinando uma reflexão contemporânea sobre a violência de gênero com a trágica figura de Ofélia, de Shakespeare. A peça começa com a recitação de manchetes reais detalhando atos de violência contra mulheres—nomes das vítimas, suas histórias brutais e a forma como suas vidas foram tiradas. Cada nome e cada relato são um lembrete sombrio do ciclo contínuo de abuso, apagamento e dano.
À medida que os nomes são pronunciados, a performer enche um grande saco de água com água de sacos menores, colocando-o sobre sua cabeça em um ato simbólico de sufocamento autoimposto. O peso da água se torna uma manifestação física do fardo emocional e social que as mulheres carregam sob a violência patriarcal. A luta pela respiração reflete o controle sufocante que a violência exerce, tentando silenciar e submeter.
Com o saco finalmente rompido, a performer começa o monólogo de Ofélia de Hamletmachine, de Heiner Müller—Ofélia como sobrevivente, não como vítima. Seu discurso fragmentado passa de sofrimento para afirmação, personificando a recuperação da voz e da agência, mesmo após uma violência avassaladora. O ato de sobrevivência, de falar através da angústia, torna-se uma declaração poderosa contra o silêncio imposto pelo abuso, dando vida e voz àquelas que, na vida real, foram privadas de ambas
Apresentado como parte do “Fieber Festival 2017”, no Pfefferberg Haus 13 – Berlim, Alemanha, em 8 de outubro de 2017.
Imagens: © Justina Leston & Daniela Carvajal Rojas